“O que nós queremos que as nossas raparigas sejam”, de Hilda Correia, ou o arquétipo da mulher ideal no Estado Novo
Resumo
No desfecho da II Guerra Mundial, Portugal sustentava ainda a sua identidade como um império transcontinental. As organizações, entretanto criadas pelo Estado Novo, desempenharam um papel significativo na construção de uma narrativa colonial que ajudou a legitimar essa perspetiva. A Mocidade Portuguesa Feminina foi uma delas. De inspiração nacionalista, foi criada em 1937, com o objetivo de moldar os comportamentos de crianças e jovens raparigas, especialmente aqueles relacionados com as qualidades de dona de casa, esposa e mãe, avaliadas positivamente. Tendo por base um dos periódicos concebidos para servir de ferramenta à propaganda e controle da informação – o Boletim Mensal da Mocidade Portuguesa Feminina – este artigo procura, por um lado, dar a conhecer algumas características da publicação, e, por outro, estabelecer o modelo de mulher promovido pelo regime através da revista em causa a partir de um conjunto de artigos escritos pela colaboradora Hilda Corrêa, com o título “O que nós queremos que as nossas raparigas sejam”; tal escolha justifica-se com o objetivo de obter uma análise mais robusta, e ainda, porque consubstancia o arquétipo de mulher do Estado Novo com o papel social que as filiadas deveriam cumprir. Pela relevância do tema e pela abordagem inovadora, através do método qualitativo e da análise de conteúdo, o objetivo deste texto é analisar como a mulher é representada em diferentes contextos, no espaço de tempo que vai desde maio de 1939 a abril de 1947. Com este intuito efetua-se, em primeiro lugar, um enquadramento histórico e cultural dessa publicação a fim de compreender os detalhes específicos das passagens selecionadas. De seguida, procede-se a uma análise da compilação de artigos que descrevem as características de excelência desejáveis para a rapariga da Mocidade Portuguesa Feminina, com recurso às ilustrações utilizadas para promover e sustentar um determinado conjunto de estereótipos associados ao sexo feminino. Por fim, apresenta-se uma reflexão sobre as implicações desse modelo para a história e a cultura de Portugal.
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