Raul Brandão: silêncio e dramaturgia
Resumo
Cem anos volvidos após a primeira publicação da obra “Teatro” de Raul Brandão, a dramaturgia brandoniana continua a inquietar e a desafiar, pela linguagem verbal que utiliza, mas sobretudo pelo não dito que impõe a sua presença e se torna significativo. Poder-se-á afirmar que Raul Brandão foi precursor de uma dramaturgia do silêncio, equiparando-se a Maeterlinck, Ibsen, Strindberg e Tchekov, na medida em que criou uma escrita neutra, branca, original e inovadora, que o coloca na vanguarda.
Recorre ao silêncio como signo eloquente para representar as lutas interiores, as interrogações e o sofrimento das personagens que se mostram na sua pluralidade. Precursor na estética da fragmentação, centrou a sua obra nos dramas psicológicos, existenciais e sociológicos. A estética brandoniana é também de transição e remete para a modernidade e contemporaneidade da obra dramática e teatral, associada ao grotesco, ao sublime, à máscara, ao teatro do absurdo que tem em Beckett o expoente máximo, e ao teatro existencial que Sartre cultivou. Raul Brandão foi igualmente precursor do teatro sintético, de situação, estático, introspetivo e reflexivo.
A sua dramaturgia tem como ponto de partida o silêncio que funciona como uma espécie de grau zero da comunicação, da literatura e do teatro. Surge em rutura com os cânones, subverte a forma, questiona os limites da literariedade, da teatralidade e da própria comunicação. É difusa e híbrida do ponto de vista genológico, abala o primado da palavra e valoriza a linguagem silenciosa, intersticial, ambígua e polissémica, como sendo a única capaz de dizer o indizível e de representar o irrepresentável.
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