No insólito, a descrença: análise comparativa de "Os Idólatras", de Maria Judite de Carvalho, e "Objeto Quase", de José Saramago

  • Raquel Lopes Sabino UÉ / CEL
Palavras-chave: Literatura portuguesa contemporânea, Maria Judite de Carvalho, José Saramago, Os Idólatras, Objeto Quase

Resumo

A obra literária desenvolvida por José Saramago em muito difere da de Maria Judite de Carvalho, autora sobejamente menos (re)conhecida e estudada do que o único Nobel da Literatura de língua portuguesa. Ainda assim, ambos são vozes do mesmo país, do mesmo tempo e, como pretendemos demonstrar, ambos eram dotados de marcada e aproximada sensibilidade. Especialmente no que aos temas sociais diz respeito, Maria Judite de Carvalho e José Saramago manifestaram em palavras os seus olhares críticos e desaprovadores do mundo em que viveram, olhares que sabemos poder encontrar ao longo de toda a produção literária dos dois escritores, independentemente do género narrativo. Cremos ser possível determinar vetores comuns na perspetiva de Maria Judite de Carvalho e de José Saramago sobre o ser humano e as sociedades contemporâneas. Para tal, analisaremos Os Idólatras, de Maria Judite de Carvalho, e Objeto Quase, de José Saramago, volumes de contos que se afastam da norma do conjunto da obra de ambos, pelo teor insólito das narrativas, que se poderão classificar, em alguns casos, como distópicos ou simplesmente futuristas, noutros como sendo do domínio do fantástico. Escritos com cerca de dez anos de diferença, durante a ditadura ou no rescaldo desse período, os contos de Os Idólatras e de Objeto Quase refletem a visão dos seus autores acerca da sociedade daquela época e, sobretudo, do seu futuro, numa representação fortemente crítica, talvez facilitada pelos seus elementos de irrealidade. Em comum têm ainda serem obras menos estudadas por comparação às restantes publicações juditianas e saramaguianas, quiçá pelo seu cunho de insólito, pouco relacionado com estes autores, que se associam a uma literatura tendencialmente crua e apartada destes géneros narrativos. Analisaremos, então, como Maria Judite de Carvalho e José Saramago se encontram na lucidez sobre a condição do ser humano e, sobretudo, na descrença relativamente a este.

Publicado
2022-12-10