Literatura-Mundial, Pós-Memória e Resistências Pós-Coloniais em "O Canto da Moreia" (2019) de Luísa Semedo e de "As Novas Identidades Portuguesas" (2020) de Patrícia Moreira
Resumo
O presente artigo discute O Canto da Moreia (2019) de Luísa Semedo e As Novas Identidades Portuguesas (2020) de Patrícia Moreira como expressões de literatura-mundial, no sentido em que este conceito foi cunhado pelo Grupo de Investigação da Universidade de Warwick em 2015. O Canto da Moreia e As Novas Identidades Portuguesas são duas narrativas que propõem olhares interseccionais sobre as comunidades diaspóricas cabo-verdianas numa sociedade portuguesa ainda não reconciliada com o seu legado pós-colonial. Defende o presente artigo que, em ambas as narrativas, a estética literária se desenvolve enquanto resistência ao modelo patriarcal, neoliberal e neocolonial estruturante da modernidade portuguesa pós-colonial e desumanizador de sujeitos racializados, à semelhança da crítica que é feita no âmbito das sociedades pós-coloniais europeias. Ao dar protagonismo a vozes racializadas, historicamente ausentes na literatura portuguesa, estas narrativas mostram que a superação de silêncios sobre o passado colonial pode configurar-se como reparação histórica, dependendo de a estas vozes lhes ser dada a possibilidades de se constituirem sujeitos históricos e agenciadores do seu destino. Esta é uma derradeira forma de resistência coletiva, reparadora de dinâmicas identitárias pós-coloniais.
Direitos de Autor (c) 2022 Margarida Rendeiro
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